A Tireóide e a Gravidez

A tireoide é uma glândula muito importante também na gestação, pois está relacionada a todas as etapas desta fase da vida da mulher, desde a evolução até o nascimento.

Os níveis dos hormônios da tireoide sofrem alterações fisiológicas durante a gestação. No primeiro trimestre ocorre um aumento na demanda da produção de hormônios tireoidianos. Apesar da tireóide se formar a partir da oitava semana de gestação, o feto ainda é dependente de hormônios tireoidianos maternos. Nesta etapa, ocorre o aumento da glândula em resposta ao aumento da demanda hormonal.

O hipotireoidismo gestacional pode causar abortamento e trazer alterações importantes no feto, como alterações de desenvolvimento mental.

A doença de Graves, que é uma afecção autoimune que causa aumento de produção de hormônios tireoidianos, é mais intensa no início da gestação e no pós-parto, sendo o tratamento medicamentoso mais recomendado, uma vez que a iodoterapia é contra-indicada durante o período gestacional.

No pós-parto, a gestante tem novamente chances de desenvolver distúrbios da tireoide. Portanto, o acompanhamento antes, durante e após a gravidez é fundamental.

Tireoidite de Hashimoto

A Tireoidite de Hashimoto é uma das doenças mais frequentes nas mulheres. É caracterizada pela presença de auto anticorpos que atacam a própria glândula tireóide. O seu nome é em homenagem a Hakaru Hashimoto, médico que descreveu a doença pela primeira vez em 1912. O resultado da ação destes anticorpos consiste na destruição das células da tireóide e na destruição dos folículos, com consequentemente liberação dos hormônios tireoidianos contidos nesses folículos em um primeiro momento. Posteriormente, como quase não há mais hormônios tireoidianos disponíveis, há uma redução funcional da tireóide. Os baixos níveis de hormômios tireoidianos circulantes estimulam a liberação de quantidades excessivas de TSH, que causam crescimento da glândula tireóide (veja mais no post  sobre hipotireoidismo).

Sua prevalência é de 2% em mulheres e 0,3% em homens, ou seja, quase sete vezes mais comum em mulheres. Geralmente acomete na faixa etária entre os 20 e 40 anos. A maior parte dos pacientes acometidos não apresenta sintomas. Os sintomas associados ao hipotireoidismo são os mais frequentes.

O tratamento é direcionado para o problema relacionado encontrado. Pode ser tratado cirurgicamente em casos onde há nódulos com crescimento ou características suspeitas. Em casos onde ocorre os sintomas de hipotireoidismo, devemos realizar a reposição hormonal adequada. Nem sempre os casos são de tratamento cirúrgico, devendo sempre ser avaliados e individualizados.

 

Bócio

Continuando nossos posts sobre as doenças da tireóide, vamos falar um pouco sobre os bócios.

Bócio é definido como um aumento da glândula tireóide. Este aumento pode ser devido à nódulos, doenças inflamatórias (tireoidites) ou aumento difusos da glândula.

A frequência de bócio multinodular chega a 30% da população mundial. Em 1990, mais de 650 milhões de pessoas no planeta eram afetadas por bócio, principalmente devido à carência de iodo em algumas regiões centrais da África e da China. No Brasil, em 1955, 20,7% das crianças em idade escolar apresentavam bócio endêmico. Este número caiu para 14,1% em 1974 devido às medidas de acréscimo de iodo ao sal de cozinha.

Ainda assim, é bastante frequente o bócio em nosso meio, e a maioria dos casos é considerada para tratamento cirúrgico. Principalmente os bócios volumosos, que causam sintomas chamados de compressivos, gerando em alguns casos, dificuldades para deglutir e até respirar adequadamente.

Nesses casos o profissional habilitado para tal é o cirurgião de cabeça e pescoço.

Radioiodoterapia para câncer de tireóide – Parte 2

Apesar da eficácia no auxílio do tratamento do câncer de tireóide bem diferenciado, o tratamento com radioiodoterapia não é isento de riscos. Existem relatos de diversos sintomas após o tratamento.

Os efeitos colaterais a curto prazo podem incluir:

– Sensibilidade no pescoço;

– Náuseas e vômitos;

– Inchaço e sensibilidade nas glândulas salivares;

– Boca seca;

– Alterações no paladar.

O corpo emitirá radiação por algum tempo assim que iniciar a radioiodoterapia. Dependendo da dose de iodo radioativo administrada, pode ser necessária a internação (isolamento) do paciente, geralmente em um quarto especial para impedir que outras pessoas sejam expostas à radiação. Alguns pacientes podem não necessitar de internação hospitalar. Ao receber alta após o tratamento, o paciente receberá instruções sobre como evitar que outras pessoas sejam expostas à radiação e por quanto tempo essas precauções devem ser tomadas. Essas instruções podem variar um pouco de um hospital para outro. Certifique-se de entende-las antes de ir para casa e se persistirem dúvidas pergunte a sua equipe médica.

Mascar chiclete ou chupar balas duras podem ajudar com problemas nas glândulas salivares. O tratamento com iodo radioativo também reduz a formação de lágrimas em alguns pacientes, secando os olhos. Se usar lentes de contato, pergunte ao seu médico quanto tempo você deve evitar seu uso.

Os homens que recebem grandes doses totais em função de muitos tratamentos com iodo radioativo podem ter uma diminuição da produção de esperma ou, raramente, tornam-se inférteis. O iodo radioativo também pode afetar os ovários da mulher, e algumas mulheres podem ter menstruações irregulares por até um ano após o tratamento. Muitos médicos recomendam que as mulheres evitem engravidar no período de 6 meses a um ano após o tratamento. Não foram observados efeitos adversos em crianças nascidas de pais que receberam iodo radioativo no passado.

Tanto os homens como as mulheres que fizeram radioiodoterapia podem ter um risco ligeiramente aumentado de desenvolver leucemia no futuro. Os médicos discordam sobre exatamente de quanto este risco é aumentado, mas a maioria dos estudos mostraram que esta é uma complicação extremamente rara. Algumas pesquisas até sugerem que o risco de leucemia não pode ser significativamente aumentado.

Converse com seu médico se você tiver qualquer dúvida sobre os possíveis riscos e benefícios do tratamento.

 

Clique aqui e confira a primeira parte do texto sobre Radioiodoterapia.

Fonte: American Cancer Society

Câncer de Tireóide – Qual o Melhor Tratamento?

Assim que temos o diagnóstico de câncer de tireóide ou carcinoma de tireóide após a punção, deve ser tomada a conduta em relação ao tratamento.

O câncer de tireóide deve ser tratado SEMPRE com cirurgia.

Radioterapia, quimioterapia ou radioiodoterapia não são indicados como tratamento principal em neoplasias tireoidianas.

Durante décadas, o tratamento padrão foi e continua sendo, para a grande maioria dos casos, a tireoidectomia total (remoção total da glândula) seguido de Radioiodoterapia. Entretanto, com o passar dos anos, evidências científicas sugeriram que o tratamento poderia ser “reduzido” sem prejudicar o paciente em relação a possibilidade de cura.

Atualmente, principalmente em casos de carcinomas bem diferenciados de tireóide, localizados, pequenos, e em pacientes mais jovens, a lobectomia ou ressecção parcial da tireóide, quando bem indicada, traz os mesmos resultados oncológicos que a tireoidectomia total. As vantagens de uma cirurgia parcial de tireóide seriam as menores taxas de complicação, principalmente relacionadas a rouquidão e hipoparatireoidismo (baixa no cálcio do sangue), além da possibilidade do paciente não precisar realizar reposição de hormônio tireoidiano.

Esta modalidade de tratamento inclusive já é padronizada conforme as recomendações da ATA (American Thyroid Association), que normalmente regem as condutas médicas relacionadas a doenças da tireóide.

Importante sempre fazer uma avaliação médica individualizada, conversando sempre com o médico antes da cirurgia, e se informar sobre todas as possibilidades terapêuticas, decidindo seu tratamento em conjunto com o cirurgião.

Aumento nos Casos de Câncer de Tireóide

Uma grande fração de casos de câncer de tireóide representa um excesso de diagnóstico, e no mínimo meio milhão de pacientes, em sua maioria mulheres, podem ter sido submetidos a cirurgias e outros tratamentos para câncer desnecessários, dizem os pesquisadores da International Agency for Research on Cancer (IARC), em Lyons, França.

O alerta sobre uma epidemia de excesso de diagnósticos de câncer de tireoide veio de uma análise de dados de registro de câncer de 12 países publicada em 17 de agosto no New England Journal of Medicine.

Salvatore Vaccarella e colaboradores da IARC estimam que mais de 470.000 mulheres e 90.000 homens podem ter sido diagnosticados excessivamente com câncer de tireoide em 12 países de “alta renda” (Austrália, Dinamarca, Inglaterra, Finlândia, França, Itália, Japão, Noruega, República da Coreia, Escócia, Suécia e Estados Unidos) de 1987 a 2007.

A maioria desses cânceres de tireoide eram carcinomas papilares pequenos e de baixo risco, observam. A “grande maioria” desses pacientes foi submetida a tireoidectomia total, e uma “alta proporção” também recebeu dissecção de linfonodos cervicais e radioiodoterapia, mas essas intervenções não têm “benefício provado em termos de aumento da sobrevida”, apontam os pesquisadores.

Claramente, este aumento de diagnóstico se deve ao aumento do acesso aos exames de imagens, como a ultrassonografia de tireóide. Este aumento no diagnóstico, porém, não levou ao aumento na taxa de cura da doença, que por si já é alta.

Entretanto, o aumento das cirurgias em pacientes com tumores menores, mostrou uma queda na incidência de tumores mais agressivos na tireóide, como o carcinoma indiferenciado, este, altamente agressivo.

A American Thyroid Association –  ATA recentemente lançou diretrizes atualizadas estabelecendo que a lobectomia de tireoide é um tratamento aceitável – ao invés da tireoidectomia total – para carcinomas de tireoide bem diferenciados selecionados. Este tipo de tratamento apresenta resultados oncológicos semelhantes.

Estas informações têm sido amplamente divulgadas, porém vale ressaltar que estamos em um país com tantas dificuldades de acesso a saúde, tanto pública como suplementar da rede privada. Isso deve ser levado em consideração. Estes dados são de países de alta renda, com acesso a exames, e tratamento médico com muito mais facilidade que no Brasil.

O mais importante é a avaliação médica individualizada caso a caso nos pacientes com câncer de tireóide, com objetivo de propor um tratamento específico que proporcione um potencial de cura, com o mínimo possível de sequelas ou complicações.

Recentemente, um painel internacional de patologistas e clínicos renomeou a variante encapsulada folicular do carcinoma papilar de tireoide (EFVPTC) como neoplasia folicular de tireoide não invasiva com características nucleares semelhantes a papilar (NIFTP) para refletir o fato de que se trata de doença não invasiva com baixo risco